Luto por suicídio
A perda de alguém através da morte é uma das experiências mais desafiantes para o ser humano. O modo como se morre parece ser um fator preponderante na forma como as pessoas desenvolvem o seu processo de luto. Alguns autores referem que existem diferenças significativas entre o luto pela perda de alguém próximo que se suicida em relação a outros tipos de perda, porque o tipo de morte em si também resulta de condições muito específicas: trata-se de um ato autoinfligido e intencional por parte do falecido.
Por este motivo, apesar de serem necessárias mais pesquisas sobre essa questão e de o luto por suicídio apresentar muitos aspetos comuns a outros tipos de luto, especialmente após mortes repentinas e/ou violentas, como homicídios, acidentes e desastres naturais, a literatura disponível sugere que o luto por suicídio contém questões temáticas que se revelam como sendo mais proeminentes e intensas: fortes sentimentos de culpa e rejeição, dificuldade em atribuir sentido à morte e reações de luto intensas no global (choro, tristeza, angústia, vazio). Torna-se essencial, desta forma, que as pessoas em luto aprendam a dosear a sua exposição à perda, ou seja, devem estar dispostas, em alguns momentos, a confrontar a morte e as suas implicações realizando tarefas como visitar a campa, lidar com os pertences do falecido, contar aos outros a história da morte e lembrar o episódio do suicídio, entre outras. Noutros momentos, é igualmente essencial a pessoa tentar abstrair-se um pouco dos momentos anteriores, por forma a promover descanso da dor e a recuperar de forma adaptativa, realizando, por exemplo, novas atividades que possam dar prazer, ter contacto com novos contextos, novas pessoas, com a natureza, expressar-se através da música, da pintura, da escrita, do teatro, ou outras atividades. Existem algumas estratégias específicas para que as pessoas em luto se sintam mais apoiadas e menos isoladas. Usar o nome da pessoa que morreu quando se fala pode ser reconfortante e confirma que o falecido não foi esquecido e que foi uma parte muito importante na vida. É importante entender a singularidade do sofrimento da perda por suicídio, pois embora possa ser possível falar de fases semelhantes compartilhadas por outras pessoas na mesma situação, todos são diferentes e moldados pelas experiências da sua própria vida. O processo de luto leva um longo tempo, até o sobrevivente seguir no seu próprio ritmo. Torna-se fulcral evitar as críticas a comportamentos que pareçam inadequados, uma vez que a morte de alguém por suicídio é uma experiência devastadora. Por causa do estigma social em torno do suicídio, as pessoas em luto muitas vezes sentem a dor da perda e não sabem como a devem expressar. O contacto com outras pessoas em luto por suicídio parece ser, desta forma, fundamental no processo de recuperação, reduzindo o forte sentimento de isolamento, estigma e vergonha, e contribuindo para um sentimento de empatia e compreensão mútuo, o que acaba por funcionar como uma referência pelo qual podem avaliar a normalidade das suas próprias reações e permite uma troca de estratégias eficazes de coping(estratégias para lidar com a dor). Por fim, acabam por funcionar como modelos de pessoas que sobreviveram ao trauma e foram capazes de reconstruir suas vidas, alimentando assim um sentimento muito bonito e extremamente importante: a esperança!
Inês Sampaio, Psicóloga Clínica
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