A primavera e o suicídio
A questão do suicídio deverá ser valorizada em qualquer altura do ano, e nunca subestimada. Todas as teorias que relacionam o suicídio com algum fator explicativo devem ser consideradas, evitando assim que nos escape alguma questão. O ser humano tem uma complexidade infindável e, ao mesmo tempo, pode ser muito simples nas suas decisões.
Primavera é sinónimo de mudança de hora, dias maiores, maior período de tempo de exposição à luz solar e aumento dos níveis de serotonina (neurotransmissor responsável, entre outras situações, por um aumento da energia e muito importante em parte na regulação do nosso humor). No entanto, apesar deste processo sazonal natural que acabamos de referir, e contrariamente ao que possamos pensar, os picos mais altos das taxas de suicídio são atingidos, também, nesta altura do ano. Esta questão tem vindo a ser estudada e têm-se formulado algumas hipóteses de compreensão. Na verdade, pessoas com depressão acabam por ter um agravamento dos sintomas durante o outono e o inverno, devido às alterações climáticas associadas (frio, poucas horas de sol, chuva), que acabam por se traduzir numa inatividade e numa falta de energia substanciais por parte da nossa mente e do nosso organismo. Se essa depressão for acompanhada de ideação suicida (pensamentos sobre suicídio), a sua concretização acaba por perder alguma força, precisamente devido à falta de energia. O que acontece na passagem para a Primavera é que o referido aumento de energia provocado pela luz solar, pode acabar por dar vida aos pensamentos sobre suicídio, que foram persistindo, de alguma forma, durante as duas estações antecedentes. A atividade social, que também aumenta, para pessoas que se encontram neste tipo de situações, mais fragilizadas em termos emocionais, pode ter o efeito inverso, ou seja, pode acabar por funcionar como uma lembrança constante de que as outras pessoas estão bem, contrariamente a elas próprias. Outra explicação, mais fisiológica, é dada através do aumento do pólen, o qual despoleta um aumento do grau de inflamação do organismo e provoca, assim, um aumento dos níveis de ansiedade. As diversas teorias, servem para que as pessoas tentem perceber um pouco melhor as razões que possam estar por detrás de um determinado comportamento, no sentido de mais facilmente e rapidamente tentar dar-se uma resposta e ajudar as pessoas a resgatarem o seu sentido de vida.